quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Beck - Sea Change (2002)

Então, aqui é o Gabriel. Não sei me apresentar. Então as minhas postagens vão fazer o favor. Quem sabe com o tempo vocês não conhecem um pouco mais sobre quem eu sou. Porque a minha vida é a música. E para cada momento pelo qual passamos sempre haverá uma música presente, sempre haverá uma trilha sonora. Coisa parecida. Mas chega dessa bosta e vamos ao que interessa.

Talvez o melhor álbum da década passada. Mas com certeza o melhor álbum da carreira de Beck Hansen, ou só Beck. Você quem sabe. O álbum consegue retratar da maneira mais profunda o estado máximo de melancolia e solidão que uma pessoa consegue atingir (foi produzido pelo produtor do Radiohead, Nigel Godrich). O título e as músicas foram inspirados no fim do relacionamento de Beck com sua namorada de longa data. Os arranjos, melodias, letras também foram de muitas formas influenciadas por artistas como Serge Gainsbourg, Nick Drake e até pelo Blood On The Tracks do mestre Zimmerman.

Eleito como um dos 500 melhores álbuns de todos os tempos pela revista Rolling Stone, e recebendo 5 estrelas pelo allmusic, NME e pela própria Stone. É um bom álbum para se escutar nessa época de fim de ano, quando todas as pessoas tornam-se mais introspectivas e passam a pensar de alguma forma no futuro. Não é o tipo de música para se escutar em festas, coisas do tipo. Deve ser escutado em um lugar calmo, fechado, sozinho de preferência. Ou com alguma pessoa que tenha algum significado especial para você. De qualquer forma, aproveitem. Pois as melhores coisas nem sempre são ditas. Normalmente são expressadas pela melodia, pelas letras ou até em silêncio.

The Golden Age, é a faixa de abertura. “put your hands on the wheel, let the golden age begin...” chega a ser curioso e estranho ao mesmo tempo, já que nós nunca sabemos quando nossa “golden age” começa e sim quando ela termina. Abrace essa música. Sinta toda a melancolia que Beck tenta nos passar: “...the sun doesn’t shine, even when it’s day”. Com arranjos folk e vocais em harmonia, é uma boa música para se ouvir enquanto viaja.

Paper Tiger, a melodia não diz tanto nessa música, vale mais pela letra e pelos arranjos e a orquestra que acompanha. Beck mostra seu lado Nick Drake, com vocais baixos e harmonizados.

Guess I’m Doing Fine, é até difícil de falar sobre essa. Principalmente quando uma música diz alguma coisa para você. Acho que é a faixa que melhor define o estado de perda de Beck, de uma forma irônica e ao mesmo tempo triste: “it’s only you that i’m losing, guess i’m doing fine.” Seguindo os moldes do disco, com arranjos folk, segue com um piano acompanhando o violão e uma guitarra bem apagada chorando ao fundo. De longe a melhor do disco todo. A mais triste. E percebemos que apesar do sentimento de raiva pela perda, a revolta e a ironia; ainda há um sujeito triste, decepcionado e infeliz: see the things that i’ve been missing, missing all this time...

Lonesome Tears, o nome já diz por tudo. Beck se questiona e procura as respostas pelo fim do relacionamento. Segue os moldes de Paper Tiger com vocais harmonizados seguidos por uma orquestra.

Lost Cause, a mais conhecida. Sei lá. Não tem muito o quê falar sobre ela. É o tipo de coisa que você precisa escutar para saber. Você precisa ter passado por algo parecido pra poder entender. Senão vai achar que tudo isso é um monte de merda. Nela percebemos o cansaço, a fadiga de continuar a insistir em algo que se tornou uma causa perdida. i’m tired of fighting, fighting on a lost cause” pode ser o pensamento suicida ou a desistência de insistir em um amor perdido.

End Of the Day, nos conta sobre os dias que passam rápido ou os que demoram a eternidade para poder terminar. Que no caso do nosso Beck diante do seu sentimento, diante da sua perda, é algo torturante. E no final das contas, o final vai ser sempre o mesmo para o broken-hearted. Tem uma melodia calma, acompanhada por uma slide guitar e maracás. É boa para se ouvir antes de dormir. No verdadeiro End of The Day.

It’s All In Yout Mind, já havia sido lançada antes no One Foot In The Grave (a versão com bonus tracks). Segue uma linha folk melancólica. Não há muito para se falar sobre essa faixa.

Round The Bend, acho que é a mais Nick Drake. Nos lembrando Way To Blue. É um tanto quanto perturbadora, pelos seus vocais baixos e pela orquestra que segue massacrando o violão.

Already Dead, confirma o verdadeiro desapego pelo amor perdido. Ele prefere que morra logo esse sentimento, do que o ver sendo desfeito aos poucos. É uma ode à auto-destruição, ao desapego amoroso.

Sunday Sun, acho que é a mais alegre. Tem coisa mais confortante que o sentimento pelo domingo de manhã? Tudo bem que ele vai sendo perdido ao longo do dia. Mas é um sentimento de calma. Tal como essa música tenta nos passar. Como se o pior tivesse passado. Como se ele soubesse que haveria melhoras e um futuro menos obscuro que o presente. Os vocais seguem harmonizados com todos os outros instrumentos.

Little One, parece que ao final do disco as letras tornam-se menos obscuras e pessimistas. Como se a vitalidade retornasse aos poucos para o corpo morto e despedaçado de Beck. Não há o que explicar, a letra é vaga. Para mim não significa nada, mas para Hansen pode dizer tudo e mais um pouco.

Side Of The Road, com o violão em destaque nos lembra Nick Drake. Ele pede ajuda para poder fugir. Fugir do dia a dia massacrante e assassino. Mas também nos cria uma idéia de que todos os seus problemas estão passando pelo lado da estrada principal. Estão indo embora. Aos poucos de forma gradual.

Ship In a Bottle, bonus track. Mas não por isso a menos importante. Segue com vocais harmonizados e sintetizadores moog entre os outros instrumentos padrões. Uma das faixas mais bonitas. E deixada para ser uma bonus track japonesa. Haha.

Acho que esse trecho da Ship In A Bottle define o disco inteiro: "but I know you’re gonna try to live without a love, by and by... but that’s not living, that’s just time going by." Quanto mais tentamos viver sem amor, mesmo que seja amor-próprio, mais perdemos tempo. Não é o tipo de coisa para tentar compreender, se você fica tentando entender e decifrar o que é amar, parabéns, você é um retardado. Nunca vamos conseguir pegar os verdadeiros significados das letras, quanto mais tentarmos explicar aqui, mais confuso vai se tornar. De qualquer forma, aproveitem.


Abraços (não tão) obesos.


Download do disco

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