terça-feira, 26 de abril de 2011

Especial Manguebeat: Caranguejos com cérebro de Recife.

O símbolo do Manguebeat.
Um dos estilos e movimento mais maravilhosos e marcantes da história do nosso país. Essa é uma frase que defino o Manguebeat, um movimento criado no começo dos anos 90 por jovens amigos que queriam acabar com a depressão social generalizada que encontrava-se em Recife, cidade que, na época, foi eleita como a quarta pior para se viver no MUNDO.
O Manguebeat contém influências de ritmos originais de Pernambuco, como o famoso Maracatu, frevo e etc, ao rock, hip hop, funk, punk, hardcore e música eletrônica. Resumindo, o estilo era incrivelmente rico em estilos musicais, culturais e ideológicos.
Chico Science
E o principal difundidor desse movimento e principal cérebro por trás de toda a maravilha desse gênero musical, é o saudoso Chico Science, que tinha como seguidores de suas idéias o grupo Nação Zumbi. Outro grande nome do Manguebeat que, junto com Chico, formou tal cena em Recife, foi Fred 04, da banda Mundo Livre S/A. Ele é o que poderíamos dizer que deu início verdadeiramente ao chamado Manguebit, depois que publicou em 1992 o primeiro Manifesto do Mangue, no qual explicava as propostas do movimento. Foi chamado de Caranguejos com cérebro.
O nome Mangue, vem do fato de que o mangue de Pernambuco apresenta uma das maiores bio-diversidades do planeta, e a situação de Recife na época estava acabando com toda essa cultura de seres vivos incríveis. A proposta dos músicos era fazer uma música que fosse tão diversificada e rica culturalmente que nem o mangue, daí que podemos ver as mais diversas influências. Do Maracatu ao Punk rock, passando pelo samba, rock, frevo e funk.
O Manguebeat sofreu uma baixa lastimável no ano de 1997, quando o vocalista, gênio e um dos maiores artistas do Brasil contemporâneo, Chico Science, morreu em um acidente de automóvel.

Nação Zumbi
Bom, como vocês poderão perceber, o post de hoje será um tanto quanto diferente dos outros. Não irei dissecar um álbum faixa a faixa, e sim tentar resumir (bem humildemente) todo um estilo musical, um dos mais importantes do nosso Brasil, como já mencionei acima. Tentei contar um pouco do mestre Chico Science, um dos últimos gênios que a arte brasileira teve, e da influência de Fred 04 para a cena de Pernambuco nos anos 90.

Na verdade, meu resumo sobre o estilo já foi escrito. O que pretendia fazer era postar um trecho do Primeiro Manifesto do Mangue, escrito em 1992, pelo Fred 04, e colocar mais alguns links para download de pelo menos três bandas importantíssimas na formação do Manguebeat no início dos anos 90. O Mundo Livre S/A, o Sheik Tosado e, obviamente, Chico Science e Nação Zumbi.

Antes de linkar os álbuns aqui para vocês, gostaria de colocar o trecho final do Manifesto.
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Mangue, a cena
Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.
Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo era engendrar um *circuito energético*, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.
Hoje, Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.
Bastaram poucos anos para os produtos da fábrica mangue invadirem o Recife e começarem a se espalhar pelos quatro cantos do mundo. A descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem bandas. No rastro dela, surgiram programas de rádio, desfiles de moda, vídeo clipes, filmes e muito mais. Pouco a pouco, as artérias vão sendo desbloqueadas e o sangue volta a circular pelas veias da Manguetown.
Leia o Manifesto na íntegra
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Fred ZeroQuatro, uma das mais importantes figuras do Movimento
Acho que lendo esse trecho final do texto de Fred 04, podemos ver bem a situação em que os moradores de recife se encontravam social e psicologicamente. Recomendo que leiam todo o texto, que não é nada grande, e tentem entender mais sobre esse estilo incrível que é o Manguebit, ou Manguebeat, ou Mangue.
Mundo Livre S/A


segunda-feira, 18 de abril de 2011

The Vaccines - What Did You Expect From The Vaccines? (2011)

Comentei, via twitter, que ia postar alguma coisa mais puxada para o indie na próxima postagem do blog. Escolhi uma banda nova (conheci há pouco mais de três semanas) no estilo e no cenário musical, o The Vaccines, e o seu primeiro e único disco até agora, "What Did You Expect From The Vaccines?"
Comecei a dar mais atenção a esse estilo recentemente, praticamente na mesma época em que comecei a ouvir a citada banda, e estou realmente viciado no indie atual, haha. Eu andava meio desacreditado com o andamento que a música contemporânea havia levado, mas são com bandas jovens como The Vaccines e etc, que até pensamos que há um pouco de esperança na música.

Os ingleses do Vaccines abrem seu álbum com uma música perfeita para tal. "Wreckin' Bar (Ra Ra Ra)" é uma daquelas músicas que qualquer tipo de pessoa gosta. Animada, rápida, com vocais entusiasmados e bem curta. Não tem como não ouvir ela dezessete vezes por dia, vão por mim. O refrão com certeza ficará na sua mente por umas duas semanas seguidas.
Uma das características da banda é a habilidade de fazer refrões grudentos junto com músicas simples. "If You Wanna" é um bom exemplo disso, com vocais cantados um tanto quanto arrastados, como se estivesse cansado ou com sono (outra marca deles. De todo o estilo, na verdade.) com letras que falam de relacionamentos, festas e outras coisas no gênero.
Achei o riff de "Blow It Up" bem harmonioso, bem legal e tal. O refrão dessa música, não sei o motivo, me lembra DEMAIS a música "I Should Have Known Better", dos Beatles.
"Wetsuit" tem um começo que me parece feito por um violoncelo, ou um teclado/sintetizador bem no grave, mas não vou me arriscar a afirmar nada, porque não tenho ouvido absoluto. haha. A música mantém o ritmo mais parado e com refrão grudento, uma música mais calma que suas antecessoras.
O riff de "Norgaard" deixa claro a influência de Garage Rock da banda, mantendo um estilo mais agitado e animado, podemos ver nessa as diversas inspirações da banda.
Um dos singles do disco, "Post Break Up Sex" é outra com uma levada contínua e refrão grudento, letra bem interessante (aposto que muitos (as) jovens vão se identificar com essa) uma música e letra que abrangem bem o que muitos jovens sentem muitas vezes.
Um riff bem interessante em "Wolf Pack", que mostra mais um pouco das influências sessentistas e oitentistas da banda. O riff dá suas caras apenas no começo da música, como se quisessem mostrar para todos que não é só o indie e o alternativo que os inspiram. Deixam o riff no começo e depois partem para o que eles tocam normalmente. Utilizam suas influências de modo bem interessante. Pegando referências diretas e colocando em suas músicas, no começo, meio ou fim. Não se apegando diretamente ao estilo que tocam e esquecendo dos que fizeram sua formação musical.

Não sei se escrevi pura bobagem aqui ou se alguma coisa do meu texto tem coerência com a realidade. Aposto que muito indie/hipster vai meter o pau na minha avaliação, mas não posso fazer nada quanto a isso. De qualquer modo, apenas baixe o álbum e curta o som. Porque é bom, e é pra isso que eu escrevo nesse blog.

Abraços obesos!

Download do disco

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Voodoo Zombie - Voodoo Zombie (2008)

 Um estilo inédito no blog dará a sua cara finalmente. Gênero bem diferente de todos os que estamos acostumados a divulgar aqui nesse espaço, apesar de que os outros gêneros que o formam (punk e rockabilly) já terem sido postados no Som de Peso.
Psychobilly é um estilo musical que, geralmente, mistura o punk e o rockabilly (às vezes uma pitada de surf music nisso tudo), e suas letras tem temas geralmente direcionados à filmes de terror, violência e sexualidade, entre outros tabus da sociedade que só se é possível comentar aberta e descontraidamente na música.
A banda que aqui será apresentada não é tão conhecida, principalmente por quem frequenta o blog, imagino, assim como todas do mesmo gênero. Se chama Voodoo Zombie. E é do Chile.
O Voodoo Zombie, por enquanto, tem apenas um disco oficial de estúdio e uma demo lançada em 2006, suas composições são clássicas do psychobilly, mas a voz feminina da vocalista, a lindíssima Katona, consegue dar o ar único da banda. Para dar mais um ar rockabilly ainda, a vocalista se veste à la pin up durante os shows da banda (maravilhosamente, diga-se de passagem haha).
A primeira música do único álbum lançado pela banda até agora, "Manicomio", tem a mistura do punk, com o rockabilly (o baixo faz essa parte com excelencia) e o reverb e notas prolongadas do surf music. Outra coisa interessantíssima é o fato do vocal ser em espanhol, o que deixa o som muito melhor, a voz da vocalista combina perfeitamente com sonoridade, que combina perfeitamente com o estilo e o peso equilibrado do disco.
Em "Abduccion" percebemos o quão difícil é definir pra que lado o som da banda é mais puxado, visto que conseguem mesclar 3 estilos diferentes tão bem, distorção do punk, baixo do rockabilly e momentos com uma pegada mais "praiana". Temos um solo curto, porém, bem destacado na música que segue com vocais um tanto quanto desesperados da vocalista.
"Tierra de Zombies" tem a influência clara do surf music que tanto comento aqui nessa postagem e, acredito, de Dick Dale. Além de, claro, ter uma letra que resumi bem o principal tema da banda e de todo o gênero musical num todo. ótima música, ótima!
Temos uma demonstração bem convincente da melodia na voz de Kata Zombie em "La Noche de San Juan", uma música mais "lenta", lembrando bastante músicas mexicanas e latinas no geral, com vocais femininos muito bonitos. Não se engane pela aparência e sonoridade da banda! Apresentam bastante talento para outros ritmos também.
Outro riff de surf, desta vez em "El twiste de La Pin Up Zombie", uma das grandes músicas do álbum, vocais de fundo bem simpáticos e a voz sexy de Katona Zombie enriquecendo a música com suas letras tenebrosas e variações do surf com o punk durante a canção, uma bateria muito precisa e com viradas clássicas completam essa incrível música.
A próxima música é, sem dúvida, uma das melhores do álbum, pelo menos para mim, é claro. "Pandemia" começa com outro riff básico da banda, letras sobre zumbis e vírus que contagiam todo o planeta e etc. Mas essa música tem algo de especial que a deixa diferente das outras, não sei dizer, é muito legal mesmo Tem um clipe bem bacana e independente, que eu recomendo que assistam logo depois de ouvi-la. Mas parece que a banda mostra seu entrosamento nessa música, não sei dizer. A distorção das guitarras dá mais ênfase nessa canção, com uma ótima performance da vocal e do restante da banda. Completamente viciante, sem dúvida alguma. Ouvirá a mesma várias outras vezes durante o dia, com certeza, haha.
"Camino de Sangre" tem uma velocidade impressionante e também é uma das minhas preferidas da banda, com um baixo bem destacado ao longo da banda e com uma melodia que gruda na cabeça, a pegada punk da banda mostrasse canaliza por completo nessa música, mas com a voz feminina diferenciando de todas as outras.

Voodoo Zombie é sem dúvida uma banda que DEVE continuar a fazer discos no mesmo estilo, mesma qualidade e com a mesma formação. Ótima banda, ótimo desempenho e um incrível primeiro álbum.
Obs. Tocarão na Virada Cultural em São Paulo esse ano, as 4h da manhã na Julio Prestes, ao lado de bandas como Irmandade do Blues, Misfits, Edgar Winter, Texas Hippie Coalition, Blitz e RPM. Vou tentar não perder, porque vai ser FODA!

Download do disco

Abraços obesos.